Cannes: Jennifer Lawrence assusta em terror maternal enquanto seu conflito dá voltas

Cannes: Jennifer Lawrence assusta em terror maternal enquanto seu conflito dá voltas

Novo filme de Lynne Ramsay escala Jennifer Lawrence e Robert Pattinson como um casal que entra num espiral de caos após o nascimento do primeiro filho

Na efusiva sequência inicial de ‘Die, My Love’, filme de Lynne Ramsay que concorre a Palma de Ouro nesta edição do Festival de Cannes, a plateia daqui quase saltou das poltronas. Após Grace e Jackson entrarem silenciosos numa casa abandonada, a edição nos salta para uma floresta noturna em chamas enquanto uma guitarra de rock perfura os tímpanos.

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Já naquele momento, ainda tão perto do começo e sem nenhuma pista de qual seria tom da própria história, parecia claro para toda a imprensa reunida na Sala Debussy que estávamos diante de um grande acontecimento do festival. Afinal, esse casal de Jennifer Lawrence e Robert Pattinson é apresentado com uma gravidade muito esquisita.

Quando Grace fica grávida, a felicidade sem limites dos dois evapora. Elaborando um subtexto cruel sobre depressão pós-parto, Ramsay exige que Lawrence encarne um lado visceral para ultraar algumas fronteiras racionais. Se num segundo ela está sorridente, no seguinte pode se jogar de um carro. A imersão do filme na sua percepção do caos é tão forte que nos faz desconfiar até de algum destino sobrenatural.

Die, My Love”, no entanto, não aproveita os destinos que suas próprias imagens e sons arrepiantes abrem margem. Baseado no livro homônimo de Ariana Harwicz, a história tem mãos uma personagem deslocada da ideia utópica de família, e escolhe repetir os mesmos ganchos para não sair do lugar.

A convivência com o absurdo, o impulso pela autoagressão, sua ferocidade transformada na vontade de “ser bicho” ou suas silenciosas caminhadas noturnas. Lawrence incorpora tudo isso com uma fisicalidade assustadora, de fato, sabendo nos surpreender mesmo quando tudo já está posto.

É curioso como Robert Pattinson vai desaparecendo, principalmente porque a maternidade de Grace acaba a isolando até mesmo da sua sinergia com o marido. No começo, Pattinson abraça de forma até bem-humorada a “vida em delírio” ao lado da esposa, mas vai sendo podado pela gravidade do conflito em casa.

“Precisamos Falar Sobre Kevin” (2011), também dirigido por Linne Ramsay, se baseava nos recorrentes ataques armados em escolas dos EUA para criar uma narrativa de penitência sobre a mãe, figura culpada pela crueldade do filho. “Die, My Love” tenta fazer algo parecido, mas sem criar ranhura, nuance ou dúvida. Grace é o que é, e nada muda.

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Apesar dessa frustração de uma história que dá voltas e voltas em si, a experiência nunca deixa de ser atraente porque Ramsay consegue reforçar sua capacidade imagética na construção de uma tensão interminável. A fotografia gelada, a casa soturna, o motoqueiro misterioso, as noites azuladas e, claro, a inserção assertiva de músicas e até de efeitos especiais.

Não para prever se o grande público vai se identificar ou rechaçar a história de Grace, uma mulher à margem do próprio limite. Aqui em Cannes, pelo menos, os ventos estão a seu favor pelo filme ter sido escolhido para encerrar uma primeira semana morna da competição. Apesar do filme não aproveitar toda a sua força, uma Palma de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence não seria delírio algum.

O 78º Festival de Cannes segue até o dia 24 de maio com cobertura especial do O POVO.

 

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