Maria da Penha palestra sobre enfrentamento à violência doméstica na Casa da Mulher Brasileira
Durante o evento, Maria da Penha compartilhou sua trajetória e propôs expansão de políticas públicas para proteção das mulheres em todo o Brasil
Com olhos e ouvidos atentos a cada palavra de Maria da Penha, inúmeras pessoas lotaram o auditório da Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza, na tarde desta quarta-feira, 14, para prestigiar a palestra sobre a importância da Lei Maria da Penha.
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Sobrevivente de uma tentativa de feminicídio e símbolo da luta contra a violência doméstica no Brasil, Penha compartilhou sua história, os desafios vividos e os avanços alcançados desde a criação da lei que leva seu nome.
Maria da Penha iniciou sua fala relembrando os momentos traumáticos vividos ao lado do agressor e as marcas físicas e emocionais que ainda carrega. “Eu ei por momentos muito difíceis. Tinha vergonha de contar à minha família, achava que a culpa era minha”, contou.
Casa onde ocorreu o crime será transformada em memorial
Durante a palestra, Penha anunciou com entusiasmo uma importante conquista recente: a desapropriação da casa onde sofreu a tentativa de homicídio, que será transformada no Memorial da Mulher Brasileira.
“A ideia é que seja um espaço de memória e resistência. Teremos a colaboração da Universidade Federal do Ceará, e será possível visitá-lo presencialmente e também online. É o primeiro museu dedicado à mulher brasileira no país”, destacou. Ela ressaltou que a iniciativa não visa apenas lembrar sua história, mas também dar visibilidade às lutas e conquistas das mulheres brasileiras e de outros países.
A desigualdade na percepção da violência de gênero
“Você já ouviu algum homem dizer que vive aterrorizado com medo da mulher, que se isolou da família, que tem medo de morrer por falta de proteção">Durante o evento, a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, Daciane Barreto, manifestou indignação diante da persistência das tentativas de deslegitimação da Lei Maria da Penha.
“Desde que a Lei Maria da Penha foi sancionada, ela sofre ameaças de enfraquecimento. E ultimamente essas ameaças têm se tornado extremamente perigosas. Agora, o Atlas da Violência revelou que, enquanto os homicídios gerais diminuíram, os feminicídios estagnaram — e em dez estados aumentaram”, informou.
A importância da educação e de novos modelos familiares
Daciane destacou ainda a importância da educação e da reconstrução de valores familiares. “Um terço dos feminicídios acontece dentro de casa. Por isso, temos que construir uma família que não represente esse modelo tradicional permeado de ódio e desrespeito. Precisamos de famílias baseadas na paz, no respeito, no amor e sem violência”, destacou.
Entre o público, a participante Rosa Malen, de 59 anos, relatou um momento que reforça a importância de encontros como esse.
“Uma vez, um homem chegou para mim e perguntou se a história da Maria da Penha era verdade ou só mais um conto. É inacreditável situações como essas. E estar aqui, participando deste ato de desagravo, é importantíssimo. Porque ouvimos a história contada por ela mesma. É incrível como ainda hoje existem fake news tentando distorcer a vivência de uma mulher tão sofrida, mas que conseguiu, através de sua dor, libertar outras mulheres dos seus agressores”, disse.
Proposta por mais centros de acolhimento em todo o País
Ao encerrar a palestra, Maria da Penha falou sobre o desejo de mais espaços para o acolhimento da mulher: que cada regional de Fortaleza tenha sua própria Casa da Mulher Brasileira e que, em todo município brasileiro, mesmo os mais pequenos, exista pelo menos um centro de referência conectado a uma rede de proteção.
“Não adianta termos uma lei boa se ela não chega para todas. A mulher do interior precisa saber que está sendo violentada, precisa saber que pode sair dessa situação com segurança”, disse.