Gatos são encontrados mortos dentro do IFCE; suspeita é de envenenamento

Gatos são encontrados mortos dentro do IFCE; suspeita é de envenenamento

Animais que viviam no campus eram cuidados por servidores e estudantes, que agora cobram respostas da instituição e das autoridades de segurança

Um caso de maus-tratos contra gatos no campus Fortaleza do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) tem gerado revolta entre estudantes, professores e funcionários. Pelo menos 12 gatos foram mortos dentro da instituição, localizada no bairro Benfica, nos últimos quatro meses. Instituição realizou reunião sobre assunto e planeja adotar medidas para evitar casos do tipo.

A suspeita é de que os felinos tenham sido vítimas de envenenamento. A Polícia Civil do Ceará (PMCE) confirmou que o caso está sob investigação. O episódio mais recente aconteceu no feriado de 1º de maio, quando quatro gatos foram encontrados mortos ou agonizando no pátio da instituição.

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Comunidade cuidava dos animais há anos

Segundo relatos de servidores, a presença dos gatos no campus é antiga. A estimativa é de que vivam no campus cerca de 70 gatos. Desses, 43 foram mapeados num censo realizado pelos servidores e alunos voluntários e 28 já estão castrados.

Há cerca de dez anos, o professor de inglês Júlio César, do curso de Turismo, iniciou de forma voluntária o cuidado sistemático com os animais, providenciando alimentação e buscando apoio para castrações e atendimentos veterinários.

Com o tempo, outros professores e estudantes aram a colaborar. Os animais foram ganhando nomes — como Marmelinho, Ruan, Dona Flor e Pérola Negra — e recebiam cuidados diários custeados pelos voluntários. Potes de ração e água foram distribuídos em pontos estratégicos do campus, onde os felinos costumam circular.

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Mortes começaram há quatro meses

De acordo com os cuidadores, os episódios de envenenamento começaram há cerca de quatro meses. Um dos casos mais marcantes foi o de um gato que, cambaleando e miando em agonia, saiu pela portaria e acabou sendo atropelado.

No último dia 1º, o professor Júlio César foi ao campus para repor a ração, quando encontrou um animal morto e mais três em sofrimento.

A suspeita é de que os responsáveis tenham aproveitado a tranquilidade da véspera do feriado para espalhar veneno misturado à comida.

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Veterinária confirma envenenamento

Laudos veterinários apontam sintomas típicos de intoxicação: pupilas dilatadas, salivação intensa, convulsões e distúrbios neurológicos. Alguns dos animais morreram no local; outros foram levados com urgência a clínicas veterinárias, mas não resistiram.

O POVO teve o a um dos laudos e confirmou que uma médica veterinária, responsável por parte dos atendimentos, atestou por escrito a presença de substância tóxica. Foram identificadas lesões compatíveis com intoxicação, como hemorragias em órgãos internos, além de um padrão característico de envenenamento em série.

Acusações internas e histórico de agressões

Servidores relatam que a direção do campus foi informada desde os primeiros casos, mas nenhuma ação efetiva foi tomada até agora. Há ainda suspeitas de envolvimento de membros da própria comunidade acadêmica.

Mensagens em grupos de WhatsApp sugerem a intenção de expulsar os gatos do campus. Em 2021, um servidor foi acusado de agredir um filhote com um chute, fraturando a mandíbula do animal, que sobreviveu após cirurgia e foi adotado por uma professora.

“Não se pode itir que uma instituição de ensino tenha servidores com ações tão perversas e repulsivas. Esse tipo de pessoa não educa, só dissemina ódio e crueldade”, desabafa a professora Rúbia Valério, do curso de Turismo.

O que dizem as autoridades?

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, que a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) está investigando o caso: “A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), unidade especializada da Polícia Civil do Ceará, realiza diligências com o intuito de identificar a autoria das ações criminosas.”

Os atos relatados configuram crime ambiental. O artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998) considera crime “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”.

A legislação foi alterada em 2020, aumentando a pena especificamente para maus-tratos contra cães e gatos. A punição atual é de reclusão de 2 a 5 anos, multa e proibição da guarda. Se houver morte do animal, a pena pode chegar a até 6 anos de prisão.

IFCE realiza reunião e planeja medidas

Procurado pelo O POVO, o Instituto Federal informou que irá criar o Comitê de Convivência e Proteção Animal. O grupo será formado por membros da gestão, servidores e estudantes voluntários ligados à causa animal.

O comitê terá como objetivo atuar no manejo dos animais que vivem no campus e promover ações educativas com a comunidade interna. A proposta é prevenir casos de abandono e maus-tratos.

A instituição confirmou que está investigando suspeitas de envenenamento de gatos ocorridas em janeiro e maio deste ano. Ao todo, sete animais morreram nessas ocasiões, e apenas um sobreviveu. Outros quatro gatos também faleceram em 2025, mas devido a problemas de saúde, sem ligação aparente com envenenamento.

Em reunião realizada na quarta-feira, 7, a gestão se encontrou com servidores voluntários e a advogada Cinthia Belino, especialista em Direito Animal. No encontro, foram definidas as primeiras medidas a serem adotadas.

Entre as ações estão o mapeamento das colônias felinas, reorganização dos pontos de alimentação em locais com câmeras, campanhas educativas, feiras de adoção e solicitação de apoio ao VetMóvel para acelerar a castração dos animais.

A direção informou ainda que vídeos de segurança analisados pela equipe interna e servidores voluntários foram colocados à disposição das autoridades. O IFCE afirma estar acompanhando o caso com seriedade e buscando articulação com diferentes setores para fortalecer a proteção animal dentro da instituição.

Como denunciar

A SSPDS reforça que a população pode contribuir com as investigações de forma anônima e sigilosa. Veja os canais disponíveis:
- Disque-Denúncia 181 (ligação gratuita e anônima)
- WhatsApp: (85) 3101-0181 (mensagens, áudios, fotos e vídeos)
- Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente: (85) 3101-7596
- Site: disquedenuncia181.sspds.ce.gov.br

Caso também foi encaminhado ao MPF

Como se trata de uma instituição federal, o caso também foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF). Em resposta ao O POVO, o órgão informou que “irá verificar e retornará com uma resposta”.

Atualizado em 9/5/25, às 20 horas

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meio ambiente

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