Artigo: IA nos liberta ou aprisiona?
O paradoxo da IA: nos liberta ou apenas nos sobrecarrega mais?
*por Eduardo Augusto, especialista em tecnologia, dados e CEO da IDK
A inteligência artificial está por toda parte. Como sociedade, celebramos cada novo avanço, desde os Oscars de 2025 com premiações para filmes que usaram IA generativa até a recente aprovação do Marco Regulatório da Inteligência Artificial pelo Congresso Nacional. Mas em meio a todo este entusiasmo, uma pergunta crucial tem sido negligenciada: o que estamos realmente fazendo com o tempo que a IA supostamente nos devolve?
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Enquanto empresas de tecnologia prometem que seus algoritmos liberarão nossa criatividade e ampliarão nosso potencial humano, o que vemos na prática é mais perturbador. Recém-divulgada, uma pesquisa da Harvard Business Review revelou que 36% dos gerentes desperdiçam mais da metade do tempo economizado com IA. Não é um fenômeno isolado: 83% dos funcionários que ganham tempo com essas ferramentas perdem pelo menos um quarto dele em atividades que agregam pouco valor.
Estou convencido de que o verdadeiro problema não é a tecnologia em si, mas nossa relação com o trabalho. A promessa da automação nunca foi apenas sobre fazer mais, mas sobre fazer diferente e melhor. No entanto, ao invés de usarmos o tempo economizado para pensar, criar e inovar, simplesmente o preenchemos com mais tarefas operacionais.
Não é só ferramenta, é cultura
O que muitos não sabem é que, embora algumas funções possam ser extintas, outras surgem. O Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025, do Fórum Econômico Mundial, projeta que, nos próximos cinco anos, a IA criará 170 milhões de empregos globalmente, enquanto 92 milhões de postos de trabalho poderão ser extintos, resultando em um saldo positivo de 78 milhões de novas vagas.
Nos escritórios brasileiros, testemunho diariamente a mesma tendência: adotamos ChatGPT, Midjourney e outras ferramentas com entusiasmo, mas as utilizamos para fazer "mais do mesmo" em menos tempo. O resultado? Executivos mais exaustos, equipes sobrecarregadas e inovação estagnada.
O Brasil, que já ocupa posição modesta no cenário global de inovação, corre o risco de permanecer em desvantagem justamente por não compreender que a vantagem competitiva da IA não está na velocidade, mas na transformação do trabalho.
Tempo para pensar é luxo ou necessidade?
Na contramão dessa tendência, algumas empresas europeias implementaram o que chamam de "tempo de reflexão" - períodos dedicados exclusivamente para que funcionários possam pensar em melhorias e ideias sem pressão por entregas imediatas. Não é coincidência que estas mesmas organizações reportem maiores taxas de inovação.
Quando foi a última vez que você dedicou duas horas ininterruptas para pensar? Na cultura do imediatismo digital, a reflexão tornou-se artigo de luxo. Mas é justamente essa capacidade de contemplação profunda que nos diferencia das máquinas - e paradoxalmente, é o que as máquinas deveriam nos ajudar a recuperar.
Além do medo do desemprego
O debate público sobre IA no Brasil frequentemente se limita ao medo da substituição de empregos. É compreensível, mas insuficiente. Segundo projeções do Fórum Econômico Mundial, nos próximos cinco anos a IA criará 170 milhões de empregos globalmente, enquanto 92 milhões poderão ser extintos - um saldo positivo de 78 milhões de novas vagas.
A questão não é se haverá trabalho, mas qual tipo de trabalho faremos. E mais importante: como usaremos o tempo que a tecnologia nos devolve?
O futuro que escolhemos
O uso que fazemos da inteligência artificial revela muito sobre nossas prioridades como sociedade. Se a utilizamos apenas para acelerar processos e aumentar a produção, estamos desperdiçando seu potencial mais revolucionário: liberar o tempo humano para o que realmente importa.
O verdadeiro valor da IA não está em nos tornar máquinas mais eficientes, mas em nos permitir ser mais plenamente humanos - pensadores, criadores, sonhadores. Em um mundo cada vez mais automatizado, nossa capacidade de contemplação, empatia e criatividade torna-se nosso principal diferencial.
A tecnologia em si é neutra. O futuro que construiremos com ela depende das escolhas que fazemos hoje. E a pergunta permanece: o que você está fazendo com o tempo que a IA está te devolvendo?
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