Conflito entre Índia e Paquistão envolve varias potências indiretamente; entenda

Conflito entre Índia e Paquistão envolve varias potências indiretamente; entenda

Os dois países vivem uma disputa por terra desde partilha do território em 1947, e a ascensão do Índia no cenário internacional, deixa a situação ainda mais complexa no xadrez geopolítico

O ataque do país hindu ao Paquistão na última terça-feira, 6, reacendeu um conflito congelado entre os dois países que faziam parte do antigo império britânico. A Índia acusa o Paquistão de apoiar grupos terroristas que realizaram um ataque que vitimou 26 pessoas dentro do seu território na Caxemira, o que o lado paquistanês nega.

Segundo o professor universitário e doutor em direito internacional Vladimir Feijó, um dos motivos que leva a Índia a acusar o Paquistão são resquícios de rivalidade entre os dois países, que teve origem na repartição do subcontinente após a independência em relação à Grã-Bretanha, em 1946.

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“O principal motivo que leva a Índia a acusar o Paquistão é pelo resquício de rivalidade quando da repartição do subcontinente indiano entre um Estado para população hindu e um Estado criado para população muçulmana”, explica Vladimir.

Feijó argumenta que o conflito tem um fundo de patriotismo religioso que alimenta a rivalidade entre os dois países. “O nacionalismo destes dois países após a independência, apesar deles tentarem construir um estado laico, foi rumando pro lado religioso, e aí alimenta essa rivalidade usando este argumento”, esclareceu.

O governo de Narendra Modi alega que tem informações de inteligência que comprovam o vínculo do Paquistão com entidades terroristas na Caxemira, sendo assim a leitura que o ataque indiano a estruturas desses grupos dentro do território paquistanês seria um ato de legítima defesa.

“Quase todas as mortes são de pessoas associadas ao hinduísmo, e os perpetradores da violência associados ao islamismo, e a Índia alega que tem informações de inteligência que provariam o vínculo do Paquistão com entidades radicais muçulmanas para praticar terrorismo”, disse.

A versão indiana dos fatos corrobora com os governos ocidentais, que têm provas da ligação do Paquistão com grupos terroristas.

“Governos do ocidente têm tratado, têm provas que mandam para ONU que o serviço de inteligência paquistanês, o ISI, teria vínculos e até financiaria alguns grupos armados dentro da Índia”, afirma Feijó.

“São três grupos principais, mas dois desses foram fundados em território paquistanês, e os três têm ideologia islâmica, pretendendo adotar no território indiano da caxemira a Sharia”, explica o acadêmico.

Um dos grupos é o Jaish-e-Mohammed, criado nos anos 2000 e que, segundo Feijó, tem o objetivo da anexação completa da Caximira pelo Paquistão. “O objetivo desse grupo é a anexação completa da Caxemira pelo Paquistão. Eles realizaram diversos ataques desde 2019.

Para o acadêmico, é difícil saber se os dois países vão escalar a situação, mas “a possibilidade existe alerta”.

Os contornos geopolíticos

Uma hipotético guerra entre as duas potências nucleares envolveria diplomaticamente muitos países. A Índia possui boas relações com Rússia e Estados Unidos, e é conhecida pelo seu pragmatismo estratégico e não alinhamento, sendo por vezes até mesmo comparada ao Brasil.

Cliente de armamentos americanos e russos, a Índia possui acordos militares com os Estados Unidos, sendo o mais conhecido o QUAD, em que o país compartilha informações de segurança também com Austrália e Japão. Porém, o Estado Hindu exerce liderança em pautas do sul global, é integrante dos Brics, mas tem conflitos territoriais com a China.

Nas últimas décadas, a Índia tem se consolidado como um polo para empresas que procuram alternativas a China, e um conflito no subcontinente poderia ter um potencial de impacto global em uma economia mundial já combalida devido ao tarifaço promovido pelo presidente estadunidense Donald Trump.

Em 2020, soldados chineses e indianos chegaram a se enfrentar na Caxemira, na fronteira disputada entre os dois países. Além da Caxemira, as duas potências emergentes têm uma disputa pela província indiana Arunachal Pradesh, considerada pela China parte histórica do Tibete.

Sendo apontado como uma potencial rival, a China tem ressalvas à ascensão indiana, bem como a um possível assento permanente ao país no Conselho de Segurança da ONU.

As reivindicações para reforma de instituições globais dividem o Brics entre Rússia e China, que usam o bloco para se contrapor ao ocidente, e Brasil e Índia que utilizam sua influência para cobrar uma representação mais democrática do sul global para os países em desenvolvimento dentro de instituições como a ONU.

A convergência maior das agendas internacionais tende a aproximar o Brasil da Índia, que pode dar ao gigante sul-americano a capacidade de influenciar o governo indiano a buscar a contenção.

O Itamaraty soltou nota pedindo o apaziguamento entre ambos os lados, enquanto na última quinta-feira, 8, o presidente Lula ligou para o primeiro-ministro Narendra Modi prestando solidariedade ao ataque terrorista do final de abril, logo após os ataques indianos no Paquistão.

Rússia, Estados Unidos, China, Europa e até Brasil olham com atenção para a questão Índia x Paquistão, pois envolve muito mais do que os interesses dos dois países: envolve o interesse de vários estados.

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