O cientista que saiu da periferia de Fortaleza e cresceu por meio da educação

O cientista que saiu da periferia de Fortaleza e cresceu por meio da educação

Leidivan Cunha andava quilômetros para estudar e hoje auxilia em pesquisas nos Hospitais Geral de Fortaleza, São Vicente de Paulo e Doutor César Cals

Leidivan Cunha, 24 anos, atua no diagnóstico de câncer em pelo menos três hospitais públicos de Fortaleza e pesquisa em um projeto reconhecido, enquanto cursa mestrado. Quem não o conhece, nem imagina que ele seja mais um exemplo da periferia, que cresceu a partir da educação.

No mestrado, entrou em primeiro lugar. Mais detalhadamente, já publicou artigo em revista internacional, é bolsista da (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) Capes e faz parte de um grupo que presta serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS), atendendo Hospital Geral de Fortaleza, Hospital São Vicente de Paulo e Hospital Doutor César Cals.

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Tudo isso conciliando trabalho prático, pesquisa acadêmica e uma rotina “puxada” que, segundo ele, “só é possível porque existe amor pelo que se faz”.

"Fazer ciência no Brasil é para poucos. Não porque somos melhores, mas porque somos corajosos"

Leidivan Cunha

Ele também se define como um dos milhares de pós-graduandos que sustentam a produção científica no País, muitas vezes com pouco apoio, sem reconhecimento e com bolsas que mal cobrem o básico.

A trajetória de Leidivan começou longe do ambiente acadêmico, no bairro Santa Fé, periferia de Fortaleza, onde a Ciência parecia um mundo impossível.

Filho caçula de uma mãe solo e analfabeta, criado com mais três irmãos em uma casa onde a comida era incerteza, ele aprendeu cedo que a única saída era o estudo.

“Nossa mãe sempre nos cobrou muito. Dizia que a educação era o único jeito de a gente não viver as mesmas dificuldades que ela viveu.”

"A gente trabalha, pesquisa e estuda. E mesmo assim há quem ache que não fazemos nada"

Leidivan Cunha

Da escola pública, lembra-se também dos pés no chão de barro e o estômago, muitas vezes, vazio. Leidivan diz que entendeu o peso dessa responsabilidade. Andava quilômetros até a sala de aula, sempre ao lado dos irmãos.

Todos seguiram o mesmo caminho que ele cita: esforço, boletins com boas notas, medalhas por mérito e bolsas para a universidade. “Isso me motivava. Eu queria também. Queria ser o melhor, não por vaidade, mas por sobrevivência.

De Santa Fé para a Ciência 

Foi no Ensino Médio que surgiu o fascínio pela Ciência. Mesmo sem referências claras, cientista não era palavra comum na quebrada — ele se sentiu atraído pela ideia de descobrir, pesquisar, contribuir. “No Brasil a gente mal conhece os nossos cientistas. Mas eu queria fazer parte disso. Queria ser útil.”

Recusou uma vaga em Biotecnologia para cursar Biomedicina, onde conquistou uma bolsa integral pelo Enem. Desde os primeiros semestres se envolveu com iniciação científica, grupos de pesquisa e monitoria.

“No começo, escrever e pesquisar era muito difícil. Mas tudo melhora quando você entende o propósito.” Seu primeiro artigo foi publicado em uma revista internacional e foi ali que o plano ficou mais claro: queria ser cientista.

Durante essa caminhada, o apoio da noiva, Ellen, e de professores da escola pública onde estudou, como a coordenadora Silvia Helena da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Poeta Otacílio Colares, foram fundamentais. “Foram eles que acreditaram em mim antes de tudo.”

Hoje, além da bolsa da Capes, Leidivan também participa de projetos financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), estruturas públicas que, segundo ele, mantêm viva a pesquisa no País. “Sem isso, nada disso teria acontecido.”

Apesar das conquistas, ele rejeita a ideia de ser visto como exceção ou herói. Prefere ser exemplo pela constância.

"Não quero ser inspiração por ter feito algo extraordinário. Eu só fiz o certo. O que tinha que ser feito. Quero ser lembrado como alguém comum que venceu com esforço, assim como meus irmãos foram pra mim."

Leidivan Cunha

E é com essa clareza que ele segue. Pesquisando, trabalhando, vivendo da Ciência que o abraçou quando ele nem sabia direito o que ela era. “Eu digo que o meu coração se enche de felicidade ao saber que posso ser, de fato, um bom exemplo de pessoa para minha comunidade.”

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