Maio é mês das noivas; conheça a história do vestido de casamento
Moda criada pela monarquia britânica influenciou gerações e fez do branco o símbolo da pureza, da riqueza e da união nos casamentos ocidentais
Maio é o mês das noivas, mas foi em 10 de fevereiro de 1840, em Londres, quando a Rainha Vitória casou-se com o príncipe Albert usando um vestido branco, que foi estabelecida uma tendência que transformaria para sempre os casamentos no Ocidente.
Segundo artigo publicado pela revista americana Vogue, em 2024, a monarca, conhecida por seu apreço pela moda, optou por um traje nada convencional para a época: um vestido de cetim de seda creme Spitalfields com babados de renda Honiton no pescoço e nas mangas, cintura marcada, anágua de crinolina e uma coroa de flores no lugar da tradicional tiara.
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A escolha refletia o desejo da rainha de se destacar em um momento especial, que ela descreveu como “o dia mais feliz da minha vida”. Até então era comum que noivas da realeza utilizassem vestidos em tons variados, com destaque para o vermelho.
O branco era a mulheres que estavam sendo apresentadas na corte. A Rainha Vitória, ao escolher o branco, deu início à tradição que hoje é amplamente associada à pureza, inocência e riqueza.
Vestido de casamento branco: moda que se espalhou entre as elites europeias
À medida que os relatos do casamento de Vitória se espalhavam por toda a Europa, outros monarcas e líderes europeus aram a adotar a mesma estética para as cerimônias reais.
O uso do branco era visto como sinal de sofisticação e status, uma vez que manter peças claras limpas era um desafio no século XIX. Lavar roupas era trabalhoso e, por isso, os vestidos brancos eram considerados itens de luxo.
Curiosamente, mesmo sendo hoje símbolo de exclusividade, naquela época o vestido de noiva branco era reutilizado em outras ocasiões — inclusive pela própria Rainha Vitória.
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Vestido de casamento branco: branco como símbolo de pureza

Conforme o artigo da Vogue, com o tempo, a cor branca ou a carregar outros significados. Além da pureza e da inocência, ou a representar riqueza, já que sua manutenção exigia recursos.
Outra razão para sua popularização foi a estética: o branco se destacava nas primeiras fotografias em preto e branco ou em tons de sépia, o que tornava as imagens mais nítidas e impactantes. Ainda assim, a democratização do vestido branco demoraria algumas décadas.
Vestido de casamento branco: do luxo à popularização no pós-guerra
Até o início do século XX, muitas mulheres de classe média e baixa continuavam se casando com o melhor vestido que tinham no armário. Foi apenas no período pós-Segunda Guerra Mundial, segundo a Vogue, que o vestido branco se tornou ível para a maioria das noivas na Europa e nos Estados Unidos.
O aumento da prosperidade econômica e o avanço da indústria têxtil permitiram a produção em massa de roupas, tornando os vestidos nupciais mais baratos e descartáveis. Junto com essa mudança, vieram as grandes festas e o desejo de transformar o casamento em um evento visualmente marcante.
Vestido de casamento branco: influência da mídia e das celebridades
A representação dos casamentos em Hollywood e a circulação rápida de imagens de cerimônias de celebridades também contribuíram para reforçar a ideia de que o casamento exigia um vestido branco.
De acordo com a Vogue, em 1956, as fotos e filmagens de Grace Kelly em seu vestido de renda, seda, pérolas e tule foram amplamente divulgadas e serviram como modelo para noivas ao redor do mundo.
Em 1981, o casamento do Príncipe Charles com Lady Diana foi assistido por 750 milhões de pessoas. Diana usou um vestido de tafetá de seda marfim com uma cauda de 7,6 metros, desenhado por David e Elizabeth Emanuel, um marco na moda nupcial.
Mais recentemente, os vestidos usados por Kate Middleton, da grife Alexander McQueen by Sarah Burton, e Meghan Markle, desenhado por Clare Waight Keller para a Givenchy, também ganharam repercussão global e inspiraram inúmeras cópias em tempo recorde, como aponta a Vogue.

Vestido de casamento branco: alta-costura e a tradição do “vestido final”
A tradição de encerrar desfiles de alta-costura com um vestido de noiva branco também ajudou a consolidar essa peça como ícone da moda. Conforme a Vogue, os estilistas criavam vestidos de noiva para clientes especiais, e durante a primeira metade do século XX, esses trajes aram a integrar as coleções de verão.
Um exemplo citado pela publicação é o vestido branco desenhado por Jeanne Lanvin em 1924 para o casamento de sua filha Marguerite Marie-Blanche com o Conde Jean de Polignac, que é considerado um modelo emocionante até hoje.
A tradição de finalizar desfiles com vestidos brancos remonta aos anos 1940 ou 1950. Um artigo da Vogue publicado em abril de 1957 já mencionava que as coleções de primavera em Paris tradicionalmente se encerravam com a apresentação de um vestido de noiva.
Alguns desses trajes se tornaram ícones da moda, como o vestido casulo criado por Yves Saint Laurent em 1965.
Vestido branco de casamento atravessando fronteiras culturais
Mesmo em culturas onde o branco não é a cor predominante nos casamentos, como na China, onde o vermelho simboliza sorte e prosperidade, o vestido branco ou a ser usado por algumas noivas, especialmente em sessões fotográficas e momentos oficiais.
Embora o traje possa ser substituído por terninhos brancos ou outras peças modernas, a cor ainda é a principal escolha para cerimônias ocidentais.
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Vestido de casamento branco: novas tendências apontam para mais liberdade no altar
Ainda assim, algumas celebridades têm ajudado a desafiar essa tradição. O vestido rosa-claro usado por Reese Witherspoon em seu casamento de 2011, por exemplo, impulsionou as vendas de vestidos em tons pastéis nas boutiques mais tradicionais dos Estados Unidos.
Na arela, a modelo Adut Akech encerrou o desfile de alta-costura da Chanel outono-inverno 2018 com um tailleur de tweed verde-menta de duas peças, um sinal de que a moda nupcial pode estar se abrindo para novas cores.
Agora, 180 anos depois do casamento da Rainha Vitória, pode ser que a história esteja prestes a dar mais um o, resgatando a variedade e a criatividade que existiam antes do branco, mas sem esquecer a importância simbólica e cultural dos vestidos que marcaram as gerações.
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