Ceará contrata hospitais para reduzir fila de 5 mil cirurgias de ortopedia

Ceará contrata hospitais para reduzir fila de 5 mil cirurgias de ortopedia

Contratações devem respeitar regionalização dos casos. 17 hospitais já enviaram propostas de credenciamento

A elevada fila de espera para cirurgias eletivas de ortopedia no Ceará continua sendo um problema para a saúde pública do Estado. Visando lidar com o volume de pacientes que aguardam por operações, a Secretaria da Saúde (Sesa) deve contratar hospitais com e sem fins lucrativos para atender especialidade.

O edital de contratualização, lançado em março de 2025, prevê R$ 37.156.310,59 para atender as cinco maiores filas de ortopedia, conforme a lista congelada em janeiro de 2025:

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  • Artroplastia total primária do joelho: 1.550 na fila
  • Artroplastia total primária do quadril não cimentada/híbrida: 1.320 na fila
  • Reconstrução ligamentar intra-articular do joelho: 772 na fila
  • Reparo de rotura do manguito rotador: 862 na fila
  • Tratamento cirúrgico de síndrome compressiva em túnel ósteo-fibroso ao nível carpo: 522 na fila

Em justificativa a busca de hospitais privados para realizar as cirurgias, documento cita a baixa oferta ambulatorial relacionada a pré-consultas na rede da Sesa, a pequena rotatividade da fila cirúrgica eletiva de ortopedia e a alta demanda de processos judiciais ligados a procedimentos cirúrgicos em tramitação.

“As cirurgias ortopédicas são os serviços mais judicializados”, registra o edital, publicado no Diário Oficial do Estado. Entre os procedimentos pactuados, com fila de 5.026 pessoas, 139 estão judicializados.

“A gente tem 17 hospitais que mandaram suas propostas para credenciamento. Já tem cinco que estão bem adiantados, onde a gente já está fazendo a análise do plano de ação, que é a quantidade de cirurgias que vão ser pactuadas para executar”, diz a coordenadora do Programa Estadual de Redução de Filas de Cirurgias Eletivas, Melissa Medeiros.

As propostas contemplam diversas regiões, como o Cariri, Norte e Sertão Central. As contratações devem respeitar a regionalização dos casos, evitando o deslocamento de pacientes para a realização das cirurgias.

Segundo Melissa, o maior gargalo envolve as cirurgias de mais alta complexidade, feitas em poucos dos hospitais da rede. “Pacientes mais velhos têm mais comorbidades, então não é qualquer hospital que pode realizar essas cirurgias. A gente precisa investir em alternativas”, afirma.

Recursos incluem consultas e exames pré-operatórios

Estão inclusos no valor dos procedimentos reado aos hospitais as consultas e exames pré-operatórios, serviços profissionais, medicamentos, órteses, próteses e materiais especiais, diárias em enfermaria ou leito de UTI e assistência pós-operatória.

Não há uma quantidade exata de cirurgias que devem ser feitas por cada unidade. O que vai definir o teto são os recursos disponíveis no edital, oriundos do tesouro estadual, e a capacidade instalada dos hospitais. Mesmo assim, Melissa explica que é possível angariar mais verbas caso seja necessário.

Dos R$ 52 milhões em recursos enviados pelo Programa Nacional de Redução das Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas (PNRF) ao Ceará em 2025, 20% serão destinados para a ortopedia. A proporção foi acordada em reunião da comissão bipartite, que reúne membros da Saúde estadual e federal.

“[O edital] tem duração de um ano. Os hospitais têm um ano para se credenciar e também para executar. À medida que a gente for executando, esses contratos podem inclusive ser aditivados para aumentar esse quantitativo”, diz a coordenadora.

Pacientes e familiares vivem a agonia da demora 

Enquanto o processo de contratação tramita, quem segue na fila de espera por uma cirurgia eletiva de ortopedia no Ceará ainda vive a agonia da demora. É o caso de Sônia Irene, 62 anos, residente de Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), que aguarda há quase dois anos por uma prótese de joelho. 

Ela ou a necessitar do procedimento devido a uma queda que sofreu em setembro de 2023. Na ocasião, foi levada para um hospital da região e um exame apontou que a mesma havia quebrado o fêmur.

De acordo com informações de familiares, como a instituição de saúde não tinha uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ela foi inserida na Central de Leitos para ser transferida a outro hospital. 

No relatório médico, a qual O POVO teve o, consta: "A paciente sofre riscos de complicações graves, como perda de mobilidade do quadril esquerdo, bem como pneumonia e tromboembólica que podem levar a morte". Depois de algumas semanas, ela foi levada ao Instituto Doutor José Frota (IJF).

Na unidade de saúde, foi identificado que Sônia tinha um grau elevado de artrose, sendo necessário uma cirurgia de artroplastia total. "Dessa forma, foi optado por alta hospitalar, com encaminhamento, via unidade básica de saúde, para realização de prótese de joelho esquerdo", diz relatório médico.

No documento, mais uma vez é frisado a urgência do procedimento, destacando que caso a cirurgia não fosse feita a paciente poderia sentir dor intensa e perder a movimentação do membro

Mas ela nunca chegou a ser chamada. "Já vai fazer quase dois anos que botei na secretaria de saúde esperando essa vaga e não surgiu nada, nem vaga, nem consulta. Minha mãe se encontra em cima de uma cama, se enchendo de ferida. É uma senhora obesa, hipertensa", diz Fernanda Vasconcelos, 38 anos, filha de Sônia, que vive atualmente em função dos cuidados com a mãe. 

"Desde o dia que ela deu entrada no hospital, ela se encontra com sonda urinária, pois não temos condições de ir atrás de fraldas, e nem isso a gente é assistido", desabafa ainda. 

O POVO entrou em contato com a Secretária de Saúde do Ceará (Sesa) nesse domingo, 18, detalhando o caso e questionando ações da pasta a respeito. A assessoria informou que conseguiria apurar o caso nesta segunda-feira, 19. A matéria será atualizada assim que houver retorno.

Com informações da repórter Gabriela Almeida

 

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