Niède Guidon: morre aos 92 anos arqueóloga mais importante do Brasil

Niède Guidon: morre aos 92 anos arqueóloga mais importante do Brasil

Sem casar nem deixar filhos, Niède dedicou cinco décadas ao estudo da região da Serra da Capivara, no Piauí, onde revolucionou as teorias internacionais sobre o povoamento humano na América

A arqueóloga Niède Guidon morreu na madrugada desta quarta-feira, 4, aos 92 anos, em São Raimundo Nonato, no Piauí. As pesquisas dela colocaram o Nordeste brasileiro no centro das discussões científicas acerca da ocupação humana no continente americano.

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Niède Guidon nasceu em 12 de março de 1933, em Jaú, no estado de São Paulo. Se formou em História Natural pela Universidade de São Paulo (USP) e foi doutora pela Universidade de Paris.

Além das contribuições científicas, a arqueóloga deixou ao Brasil o Parque Nacional Serra da Capivara, que foi criado em 1979 e cobre 1.014 quilômetros quadrados (km²) do sul do Piauí, onde ela pesquisou e tornou famosas as pinturas rupestres do local.

Hoje, o Parque é considerado um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo e, desde 1991, integra na lista de Patrimônio da Humanidade da Unesco. O local possui 135 mil hectares, nos municípios de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São José do Piauí e São Raimundo Nonato, no Interior do Piauí.

Neste lugar estão 1.354 sítios arqueológicos catalogados por ela, sendo 183 abertos à visitação turística. Ela também criou a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), entidade responsável pelo estudo do acervo natural e cultural do parque.

Descobertas de Niède indicam ocopação humana no Piauí de 60 mil anos

As descobertas arqueológicas de Niède indicam vestígios da ocupação humana no Piauí que datam de 60 mil anos ou mais, que poderiam chegar a 105 mil anos na Serra da Capivara, muito antes do que os estudos arqueológicos estadunidenses estabeleciam.

Dessa maneira, as pesquisas dela derrubam a teoria mais aceita sobre o povoamento da América, que sugere que os primeiros humanos vieram da Ásia e atravessaram o estreito de Bering - enquanto esteve congelado - entre a Sibéria e o Alasca há cerca de 13 mil anos.

Essa ideia é denominada Teoria de Clóvis, e também propõe que, inicialmente, os humanos chegaram à América do Norte e só tardiamente desceram para a América do Sul.

Niède: polêmica e destemida

Devido as seus estudos e trabalho pela preservação, Niède foi mundialmente reconhecida e considerada polêmica e destemida.

Ela lutou ativamente contra o isolamento do Parque para viabilizar o turismo local e protagonizou iniciativas de integração e sustentabilidade com as comunidades da Serra da Capivara, tais como uma fábrica de cerâmica.

Atualmente, o Complexo da Cerâmica, situado na zona rural de Coronel José Dias, é responsável por gerar ao menos 60 empregos diretos — todos da comunidade local.

Niède também motivou a construção de escolas de ensino integral e postos de saúde do lugar, visando garantir as estruturas necessárias para que os serra-capivarenses protagonizassem o potencial do Piauí arqueológico.

Sem casar nem deixar filhos, Niède dedicou cinco décadas ao estudo da região da Serra da Capivara, onde revolucionou as teorias sobre a ocupação humana nas Américas, que a fez ser considerada mais relevante arqueóloga no Brasil.

O corpo dela será sepultado no jardim de seu domicílio, conforme sua vontade. Já o velório está previsto para ocorrer na Fundação Museu do Homem Americano, que Niède fundou.

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